No sexto e último artigo de nossa série de apresentações que abordam as Cinco Marcas da Missão da Comunhão Anglicana, a Reverenda Cônega Dra. Rachel Mash, Coordenadora Ambiental para Green Anglicans (“Anglicanos Verdes”), da Igreja Anglicana da África Austral, reflete sobre a quinta Marca da Missão: Lutar para salvaguardar a integridade da Criação, sustentar e renovar a vida da terra
“Homens idosos perderam a vontade de sobreviver quando foram forçados a abater seu gado.”
No norte da Namíbia, muitas pessoas não têm uma conta bancária. Seu gado criado é a sua poupança para a velhice.
“Por favor, deem-nos pequenas tendas para que possamos viver em família, não as enormes tendas para refugiados.”
Beira, em Moçambique, foi completamente devastada por mudanças climáticas. Sobrecarregado pelo aquecimento do oceano, o Furacão Idai despejou um ano de chuvas em apenas alguns dias formando um mar interior. As inundações invadiram uma terra já devastada por décadas de desmatamento.
“A mudança climática está aumentando a vantagem com a intensificação das tempestades e tornando os padrões de chuva menos previsíveis. A mudança climática é o peso humano nessa escala, que está empurrando-nos para o desastre. Não se trata de um perigo distante – ele já está conosco. Enquanto continuarmos a queimar combustíveis fósseis, seus efeitos só aumentam”, disse o Arcebispo Justin Welby.
A quinta marca da missão da comunhão anglicana nos chama a “Lutar para salvaguardar a integridade da Criação, sustentar e renovar a vida da terra.”
“Lutar para salvaguardar a integridade da Criação”
Nós falhamos. Segundo Gênesis 2:15, Deus entregou o cuidado deste belo planeta de jardim em nossas mãos para “cuidar dele e cultivá-lo.”
Falhamos no chamado de Deus para sermos guardiões da Terra.
Os laços que mantêm a natureza unida estão se desfazendo devido à sobre pesca, poluição, mudanças climáticas e desmatamento. Na minha geração, levamos um milhão de espécies à beira da extinção. A degradação ambiental e as mudanças climáticas estão afetando mais duramente os mais pobres e vulneráveis.
“Sustentar e renovar a vida da Terra”
Mesmo tendo falhado como guardiões da Criação, agora estamos sendo chamados para renovar a vida da Terra. Como podemos fazer isso?
Em primeiro lugar, essa missão deve impactar nossa teologia e adoração: o amor de Deus se estende a todas as criaturas de Deus, não apenas aos humanos. A salvação é para toda a Terra. Jesus morreu na cruz por toda a Criação para que “por meio dele reconciliasse consigo tanto as coisas que estão na terra quanto as que estão nos céus estabelecendo a paz pelo seu sangue derramado na cruz” (Colossenses 1:20).
Em toda a Comunhão, igrejas e dioceses estão adotando o serviço de adoração que inclui nosso cuidado com a criação.
As igrejas estão usando a Quaresma como um tempo para se abster do dano que estamos causando à terra de Deus. A Igreja da Inglaterra adotou a “Quaresma Verde” (Green Lent), dedicando a temporada deste ano ao cuidado da criação. A Rede Ambiental da Comunhão Anglicana está incentivando as pessoas a Jejuar pela Terra (#Fast4Earth). Em outras províncias estão praticando uma “Quaresma sem Plástico”.
A Temporada da Criação foi amplamente adotada como um movimento ecumênico global, também pelo Conselho Consultivo Anglicano como um tempo dedicado a aprender sobre Deus, o Criador, que vai de 1 de setembro a 4 de outubro.
A Semana Mundial da Água, o Dia da Terra e os festivais de colheita, entre outros, nos dão muitas oportunidades de focar em Deus, o Criador, e o que a Bíblia ensina sobre nossa missão de renovar a Terra.
Essa missão nos chama à ação. É inspirador ver como as igrejas da Comunhão estão respondendo de maneiras desafiadoras e proféticas:
- A Igreja da Inglaterra aprovou uma moção para alcançar o carbono líquido zero até 2030. O transporte e o aquecimento dos edifícios devem ser drasticamente reduzidos para atingir esse objetivo profético.
- A Igreja do Sul da Índia foi indicada para um prêmio da UNESCO por seu inspirador programa de Escolas Verdes
- A Província Anglicana do Burundi estabeleceu a meta de plantar 10 milhões de árvores em cinco anos
Instalando fazendas solares de pequena escala em Moçambique, captação de água na Índia, agricultura orgânica no Zimbábue, destas e inúmeras outras maneiras as igrejas estão respondendo ao chamado para curar este planeta.
Agora devemos ser liderados pelas vozes daqueles que mais perderam - os jovens. Como geração mais velha, nós falhamos de ser guardiões da Terra e agora os jovens estão se levantando para proteger sua casa - metade da população do mundo é jovem. Cem por cento do futuro do mundo é jovem.
Jovens anglicanos estão se levantando. O movimento dos Green Anglicans (“Anglicanos Verdes”), iniciado na África Austral, espalhou-se pelo centro e leste da África e chegou a Portugal e Brasil.
Sigam Leah Namugerwa, nossa “Greta” de 16 anos, de Uganda, nas redes sociais. Em todo o mundo, a participação de jovens está aumentando nas Fridays for Future (“Sextas-feiras pelo futuro”) e em outras campanhas. Vamos apoiá-los.
Pedimos que as vozes dos jovens sejam ouvidas na Lambeth Conference e estamos incentivando-os a desafiar os bispos e as bispas escrevendo “ Cartas para a Criação”.
Devemos aprender a ser guiados pelas vozes das comunidades indígenas, pois o relacionamento delas com a criação permanece integral à sua espiritualidade. Elas são guardiãs de algumas das terras mais vulneráveis que atualmente estão muito ameaçadas pelas indústrias extrativas.
Nas palavras do Arcebispo de Canterbury: “A emergência climática é o maior desafio que nós e as gerações futuras enfrentamos. . . É absolutamente claro que seguir a Jesus deve incluir estar ao lado daqueles que estão na linha de frente dessa catástrofe que se desenrola. ”
Nossa missão é clara: “Ide por todo o mundo e pregai o evangelho a toda a criação” (Marcos 16:15).
Leia o restante de nossa série sobre as Cinco Marcas da Missão